Meu delicioso e melancólico mundo particular.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Emerald

Chuva, vento, frio, do lado de fora um furacão de água e neve e gelo, congelando meus dedos e minha boca, cortando meu rosto, açoitando meu corpo. Do lado de fora o rosto molhado, a cabeça vazia e os olhos inexpressivos, calmos, como se nada estivesse acontecendo.
O mundo cinza cada vez mais cinza, apressado e lento, correndo, correndo, correndo, nunca saindo do lugar. E nesta terra molhada, a quem chamam Esmeralda, a vida se multiplica ingênua e maligna por toda parte. Crescem as gramas, crescem as árvores, crescem as crianças e com elas a esperança. Esperança em cada família rostinho rosado repetido inúmeras vezes, em cada uma das quatro crianças-esperança nascidas, que orgulho! Famílias grandes e prosperas e católicas e caóticas.
Do lado de fora as crianças batem o pé, querem mais, mais brinquedos, mais vida, mais sol, mais alegria, mais crianças. Do lado de fora o clima é pesado e os rostos são mortos ou, ao menos, vivem como se já estivessem. Do lado de fora eu observo, como uma estranha, aos peixinhos vermelhos no aquário cinza, tão insatisfeitos consigo mesmos e tão incapazes de pular fora do aquário.
Mas do lado de dentro é outra historia. Do lado de dentro a sala é quente, do lado de dentro as crianças dormindo são anjos que enfeitam a casa, do lado de dentro a chuva é tão linda que chega a ser poética.
As flores crescem, enquanto eu observo daqui, e a Esmeralda é realmente verde e prospera. O ar quente da lareira é convidativo e as faces são amigáveis e rosadas, emolduradas pela penugem laranja e expressivas com um olhar azul profundo, tão profundo que chega a ser cativante, inocente.
Olhando deste ângulo a felicidade está no número, o que melhor que uma nova vida para renovar a esperança de um futuro melhor? De dentro eu vejo as centenas de porta-retratos sorridentes e brilhantes, vejo pessoas animadas e mais um Bank Holiday , que alegria!
Do lado de dentro os rostos são secos, as roupas são secas, mas o coração é úmido e palpitante. Depois de dois anos vivendo em uma Ilha molhada e fria eu aprendi a enxergar a joia Esmeralda, oh Emerald Isle, tão improvável e tão previsível.
Momentos bons, ótimos e ruins, péssimos, que jamais esquecerei. Levo de ti não só tua língua, teu sotaque, mas também tua complexidade que me forçou a aflorar ainda mais a minha versatilidade, e deixo contigo uma parte do meu coração em cada amigo, em cada alma viva, em cada nova historia que aqui fiz e desfiz...
Para sempre haverá um pedaço de mim espalhado por esta Ilha úmida de lagrimas de quem vai e de lagrimas de quem fica.
Até logo, Ireland. Fique bem na minha ausência. Hope I can see you again soon....


Gabriella Lopes.

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