Meu delicioso e melancólico mundo particular.

sábado, 12 de outubro de 2013

Castelo de dominó. Ponto final.


Peça por peça fui montando um castelo encantado cheio de fantasias e sonhos, baseados na realidade que vivíamos. Dia após dia eu marcava o calendário pendurado na parede, cada dia a menos uma alegria a mais, até chegar o momento de finalmente estarmos juntos outra vez.

Eu que nunca gostei de romances me peguei apaixonada por Goethe e, inspirada naquela visão de amor, mergulhei de cabeça na sua história romântica de conto de fadas.
Eu fui tão sua, meu amor, tão sua! Até mesmo na cama de outrem eu nunca deixei de pensar em você… nunca houve um só momento em que eu não quisesse você ao meu lado. E eu fui tão fiel a nós, amor da minha vida. Jamais um outro homem abalou meus pensamentos como você fez, jamais qualquer um chegou aos teus pés e nem jamais chegaria.
Você, soberano, motivando a minha existência, passou a ser o meu principal motivo.
Ahh você, de corpo tão quente, que me chamou de fria quando eu não quis o cobertor, você soube me laçar… e me laçou direitinho.
Ahh aquele homem de pele quente e morena com aqueles cabelos negros, contrastando tanto com a minha pele pálida e fria. Aquelas mãos macias que jamais conheceram a dor e o valor do trabalho, contra a minha pele gasta da labuta diária… ahh aqueles olhos dele, quase infantis de tão surpresos, me olhando durante o sexo, e meus olhos sem foco e meu corpo em chamas e minha boca falando coisas que não se deveria falar a um homem romântico como você, um homem como das palavras de Goethe.
O único problema destes homens é o mesmo que o seu: são homens de mentira, nunca existiram, jamais existirão, mas é uma delícia imaginar que um desses apareceu justamente para mim. O problema de Goethe era que ele escrevia exatamente o que ele não conseguia, e a diferença entre vocês é que ele é Goethe e morreria por um amor, você um pífio mentiroso que me manteve o quanto pôde sob sua teia, não morria e nem me matava, conscientemente nos afogando numa trama sem volta.
Aquele castelo um dia construído com dominó, ontem se montando, hoje deixando em colapso o que restou de mim.
Eu não vou te odiar como você acha que vou, eu não vou roubar aquela sua mala verde de loja de departamentos, eu não quero as suas blusas e nem o seu chinelo, eu não quero as suas palavras doces e nem o seu julgamento, e, mais importante, eu não quero as suas mentiras.
Eu quero que você viva bem, quero muito que você alcance ser este homem que tanto idealiza, quero ver você sendo feliz com quem você estiver, mas sem precisar quebrar nenhum outro coração. Eu sei que a dor é grande, mas a minha libertinagem consegue ser ainda maior… e por mais que esteja doendo eu continuo seguindo e tentando, em outros braços, pernas e membros, me achar sem você e ser livre. Eu não vou parar para te esperar ser quem você sempre sonhou, já estou muito ocupada fazendo isso por mim mesma.
Agora eu acabei de rasgar a última carta, de deletar a última foto, acabei de derrubar a última peça do dominó das suas mentiras. Não quero, em mim, deixar nada de você.
Leve na boca aquele último beijo, na cara leve os dois últimos tapas e no pensamento leve aquele último olhar, de costas, aquele que você nunca virou para ver que te dei.


E que você consiga, um dia, ser verdadeiramente feliz.


Gabriella Lopes.