Meu delicioso e melancólico mundo particular.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Solidão, sólido, solo, só.

Desde pequena sempre fui muito cobrada por todos os lados. Meu pai sempre quis que a menina mais inteligente da classe fosse eu, minha mãe sempre quis que a menina mais bem comportada da família fosse eu, minha tia sempre quis a menina mais bonita como sobrinha e sempre fui cobrada a ser a melhor filha, a melhor neta, a melhor sobrinha, a melhor aluna, a mais esperta, a mais preparada. E, atendendo a todas as expectativas, sempre fui a melhor aluna, sempre fui a melhor irmã mais velha, sempre fui a menina prendada que aprendeu cedo demais a cozinhar para si e para os irmãozinhos, fui a sobrinha-filha mais linda que uma tia poderia querer, aprendi a me maquiar e pentear muito cedo, aprendi a dançar, sambar, ter charme desde muito pequena, caligrafia impecável e sempre muito bem informada, mesmo sendo apenas uma criança. Cresci achando toda esta cobrança normal, criei uma independência precoce muito grande, sempre fui muito segura dos meus atos e nunca soube o que é ser passada para trás, por sempre andar na frente. Aos 16 anos eu provavelmente conhecia mais do mundo do que a minha avó, aprendi sozinha a entrar e sair das minhas próprias furadas. Não consegui me apegar a ninguém quando adolescente, sempre visualizava os prós e os contras e ao menor sinal de problema desenvolvi a incrível habilidade da fuga. E eu fugi muito, sempre me antecipando, sempre andando um passo à frente de quem quer que fosse. Muito cedo chorei perdas, perdas que doem até hoje dentro da minha alma, que jamais passaram e que, talvez por masoquismo, eu alimente a dor e a aprecie profundamente. Sempre tive sonhos, mas os meus sonhos sempre precisaram se converter em realidade, para a minha felicidade, pois o que me satisfaz é o presente, é o mundo como ele é. E foi, e é, o mundo, o meu maior sonho de todos: conhecer, saber, descobrir, me aventurar; é disso que eu gosto! Sempre sozinha, pois ao mesmo tempo que sempre fui condicionada a ser solícita desde pequena, também fui condicionada a ser guerreira, lutar sozinha, lutar por mim. Sou minha agenciadora, sou quem trabalha duro para me sustentar, sou quem apoia a tia no divórcio dela, sou quem me leva ao cinema, sou quem está ao lado da minha mãe quando ela quer um abraço e sou a única neta que visita a avó que mora sozinha. Sou também a melhor amiga que mora longe e sou aquela que te ajuda quando tem mudança, carregando caixas. Ao mesmo tempo, estou ali fazendo pesquisas na faculdade, e depois eu vou jantar fora e depois voltar para arrumar as caixas, e depois cuidar do sobrinho, e depois tentar ter tempo pra um cigarro com café... E no meio disso tudo e desse monte de gente, me vejo sozinha pois já não tenho o meu tempo para me dedicar a mim. E no meio disso tudo, me falta tempo para os outros que não são tão prioridade assim, mas que eu aprecio profundamente.
Acho que a tendência é aceitar e seguir o destino que eu mesma trilho, que acaba sendo inevitável, o "se" ser de todos e não ser de ninguém. Afinal, que homem aceitaria as migalhas de tempo de uma mulher de mil faces e fases? Nunca sonhei com um príncipe encantado, mas hoje em dia a possibilidade de um mero "caso casual" me parece pouco provável. Um problema de agendas, sabe?
Se eu sofro? É claro que eu sofro. Não parece... mas, me faz falta.

Um comentário:

  1. E qnts vezes, mesmo casada, mãe e todos da de multidão ainda assim nós encontramos sós! A solidão é um complexo misterioso... Mas quem sabe, nossa sororidade colocada em prática: solidariedade no lugar dos julgamentos, pode ser uma forma de sabermos que não estamos tão sozinhas assim! Seguimos!

    ResponderExcluir

Obrigada por comentar