Meu delicioso e melancólico mundo particular.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Covarde!

Covarde! Arranca minhas asas, me poda, me limita, me engaiola.
Isso deveria ser crime: tirar de um bicho selvagem a sua liberdade e o seu movimento, botar cimento nos pés de uma fera veloz.
Covarde! Não tem coragem de mudar. Mudar a vida, mudar os planos, trocar os panos, botar pra lavar. Só porque o mundo não vai acabar, não significa que tenhamos que acabar no lugar dele!
Eu tiro parte de mim para me sentir mais leve, me livro dos pesos que me mantém no lugar, arranco um braço inteiro se para melhor me esquivar, me adequar, me remodelar; e você, nada. Milímetros medidos no cubículo da sua solidão. Fez da estagnação fortaleza e do medo uma muralha intransponível.
Covarde! Faz isso consigo e me obriga a assistir, enlouquecida, lutando contra tuas farpas, contra teus arames, tentando te salvar. Você, incapaz de fazer um único movimento para me ajudar, me exige que assista, parada, a sua solidão.
Não fico parada! Não me conformo! Eu me reformo e me desmonto e remonto, toda torta, para me encaixar nas tuas frestas e recortar as tuas arestas, que te impedem de vir a mim. Eu luto, eu luto, eu luto e eu estou perdendo... Perdendo a batalha, perdendo você, lhe perdendo dentro de algum lugar em mim, aos poucos me libertando dos teus muros, lentamente me movendo para longe de nós.
Não é justo, é covarde. Mas eu não consigo, por mais que eu tente, lutar sozinha. Não sinto mais forças para lutar por muito tempo. Que crime, cortar as asas de um monstro alado para que este se mantenha ao teu lado e depois soltá-lo para que viva sozinho, reaprenda a viver de maneira diferente, se quebrando, se perdendo, se achando... sem a tua luz.
Covarde, ingrato! Fui a tua maior aventura, a que te entendeu, que te deu colo, abrigo. Fui sua melhor companhia, mesmo sem uma palavra trocada. Covarde, vai perder tudo o que conquistou por medo de sair da crosta grossa que criou para si.
Seus planos, intocáveis, imutáveis, estáticos. Meus planos são meus, quem manda sou eu, quem decide sou eu e é assim que continuará a ser. Rápida, decidida, pois planos de 30 minutos são planos felizes, planos que independem do clima ou do trânsito, planos que completam e que nutrem, me nutrem, me suprem. Eu sou mudança, pode me acusar. Eu sei que nem me apontar o dedo você consegue, sem reação, estagnado no cimento que te envolve. Nem reações eu consigo arrancar de você, nada.
Falta muito pouco para eu desistir, falta muito pouco para eu me afastar de vez da tua crosta grossa... e quando isso acontecer, sabe o que você vai fazer? NADA.



Gabriella Lopes

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