Meu delicioso e melancólico mundo particular.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

...é por amor às flores.


 

Chegou a primavera, mas para mim ainda é inverno. Vejo as flores desabrocharem, vejo as pessoas contentes com as cores voltando às ruas, e eu aqui com as mãos geladas, enfiadas no bolso do casaco pesado que eu insisto em carregar comigo.
Corpo coberto, neve caindo ao meu redor, face fria, vento cortante.
Eu vejo vida nos olhos deles, estão doidos para me dar vida também. Onde eu chego me pedem um pouquinho de paciência e tentam me mostrar que posso abandonar a capa pesada. Seguram minhas mãos e apertam, cheios de esperança, acham que manterão meus dedos mornos com o calor dos dedos deles. Eles mantêm sim, e é bom sim, mas eu nunca deixo que me aqueçam por muito tempo.
Já cheguei a pensar que eu mesma, logo eu que adoro verão e sol, estou enterrada na neve, no frio, no gelo das minhas próprias mãos.
Nunca deixo de dar a chance que me pedem, nunca fecho a entrada do jardim, mas quando me aproximo das flores eu olho para minhas mãos geladas e as enfio nos bolsos novamente. E sumo.
Não é que não me agradem as flores, não é que eu não goste da primavera. Eu adoro!
Meu problema é gostar tanto que tenho que ter várias ao meu redor. Eu toco minhas flores, eu amo minhas flores, eu amo seu cheiro e doçura e amo ter várias delas só para mim. Eu as tenho todas ao mesmo tempo. O problema é que não me contento em vê-las e tocá-las, eu as arranco e levo para casa. Depois de um tempo elas secam, murcham, perdem a graça. E eu pego outra, e a mesma coisa acontece.
Tive uma coleção de flores lindas, que me aqueceram, que me amaram, que me deram beleza e vida. Hoje é uma coleção de flores mortas, secas, pálidas. Flores lindas que foram minhas por inteiro e hoje joguei no lixo depois de sugar toda sua vida e beleza.
Diante disso resolvi viver no inverno. No inverno não há flores, apenas árvores secas. Não há como secar mais uma árvore seca, morta, dura. E é nelas que me abrigo. Fiz um refúgio seguro entre neve e galhos quebrados.
Minhãs mãos geladas, o casaco pesado me protegendo, mãos nos bolsos.
Tudo por amor às flores... Tudo para protegê-las de mim.

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